21/12/12

Feliz Natal!

Costuma-se associar, por norma, o mês de Dezembro ao Natal. Costuma ser um mês de família, de afectos, de reencontro entre as pessoas. Se formos a ver bem, é nesta altura do ano em que existem mais jantares e festas de Natal entre grupos de amigos e nas empresas. O que se vive nesta quadra - a alegria, o espírito fraterno, a solidariedade - é tão sentido pelas pessoas que algumas dizem que "o Natal devia ser todos os dias". É uma verdade bem dita, mas a natureza humana nem sempre consegue cumprir este preceito o ano todo.

E devido a este ambiente, existem alguns eventos que se costumam realizar no Natal. Este artigo, vai servir apenas para retratar (de forma ligeira!) algumas iniciativas que a STCP demonstrou durante o período desta quadra. 

1 - "O Bicho"

Este curiosidade, proporcionado não só pela STCP, mas também pela Câmara Municipal do Porto, constituiu "[uma] prenda de Natal [que] partiu das desmaterialização de um objecto ready-made do nosso quotidiano, subvertendo a sua função utilitária, de modo a ganhar uma nova identidade. Assim, um autocarro standard da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto sofreu uma mutação que o transformou num lindo bicho colorido e divertido que apelava à descoberta no seu interior. O visitante era envolvido por um ambiente natalício, onde predominava um jogo de luz, cor e música(...)". 

- Noticia do "Bicho", no Jornal do STCP, Dezembro de 1994

O Jornal do STCP refere que o "bicho" tem um aspecto "bizarro". São diferentes perspectivas para algo que, naquele ano de 1994 constituiu uma autêntica curiosidade. 

 2 - O "Nicolau" 

O "Nicolau" foi, durante alguns anos da primeira década deste século, uma tradição inovadora: o utilizador comprava um relógio (com valores que rondavam os 7,5 euros - em 2001 - e os 9,5 euros - em 2005) e teria direito a utilizar todos os autocarros da rede STCP. Por norma, existiam duas versões do Nicolau: um anterior ao Natal (por norma, entre os dias 15 e 25 de Dezembro, em 2001) e o outro posterior ao Natal (de 26 de Dezembro a 5 de Janeiro, em 2001).


- Duas imagens dos relógios Nicolau, versões de 2003 e de 2005, respectivamente.

A verdade é que durante algum tempo, o Nicolau foi uma excelente forma de incentivo à utilização dos transportes colectivos, nomeadamente os da STCP. Hoje,todavia, este tipo de títulos de transporte não é lançado. É certo que hoje vivemos tempos mais difíceis, mas também hoje existe uma oferta de títulos de transporte superior ao que existia anteriormente. 

3 - O novo site da STCP

Este ano, a STCP anunciou um presente no sapatinho: um novo site institucional. E é em boa hora que este chega, pois a versão anterior já contava com 10 anos de existência.


Não irá ser feita aqui uma descrição exaustiva ao site. No entanto, posso dizer que em termos de pesquisa de linhas e de horários, a utilização é muito mais fácil e intuitiva. Por outro lado, foram acrescentadas algumas funcionalidades como a passagem dos próximos autocarros numa determinada paragem e um simulador de tarifários.


Por outro lado, jornalistas e entusiastas não foram esquecidos. A parte institucional foi enriquecida com diversas informações sobre a empresa (história, por exemplo) assim como com fotografias e vídeos oficiais, disponibilizadas num separador próprio. Nem as crianças foram esquecidas (o STCP Kids é disso um exemplo).


Mesmo os turistas têm aqui à sua disposição um conjunto valioso de informações e de sugestões para uma excelente estadia na cidade do Porto e arredores. Obviamente utilizando os serviços da STCP.


Para terminar, queria apenas desejar os meus votos Natalícios. Desejo um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo (2013) para todos. Para quem trabalha na STCP (e outras empresas de transportes), sobretudo para aqueles que irão cumprir serviço na noite e dia de Natal. Para todos os clientes e passageiros da empresa. E finalmente, para os leitores do blogue e para os meus amigos. Saibam que sem o vosso apoio, a vossa disponibilidade, este blogue nunca teria existido. Bem hajam a todos e vamos fazer desta época uma época mais feliz, a contrariar os tempo difíceis que vivemos. Boas Festas! 


Fontes:
- Site: Portotrans
- Site STCP
- Site TSF
- Jornal do STCP, Dezembro de 1994 (disponivel na Biblioteca Municipal do Porto);
- PACHECO, Helder: Porto, o Livro de Natal; Porto: Edições Afrontamento; 2002

29/11/12

(Quase) tudo o que precisa de saber sobre os novos tarifários da STCP

A partir do dia 1 de Janeiro de 2013, já deixa de existir o actual tarifário monomodal da STCP - que permite única e exclusivamente a sua utilização na sua rede de autocarros. Nessa altura existirá apenas o tarifário Andante que tem condições diferentes dos tarifários que vão deixar de existir.

Mal grado a existência de cartazes, folhetos, avisos na página da Internet da empresa, no seu Facebook e a bordo dos autocarros, julgo eu ser um dever da minha parte dedicar um artigo com algumas perguntas e respostas sobre o que aí vem em 2013. Seria, no entanto, um erro da minha parte pensar e afirmar que estas perguntas e respostas venham a responder a todas as questões que os leitores possam ter. Por isso, caso surja alguma dúvida, recomendo vivamente que se dirijam a uma loja Andante ou posto STCP ou, em alternativa, que contactem as linhas de atendimento da STCP (808 200 166 / 226 158 158) ou Andante (808 200 444 / 226 158 151).  

1 - Porquê o fim do tarifário da STCP? Quando é que ele acaba?

O tarifário monomodal STCP terminou por decisão do Governo, através do despacho normativo 1/2012 - não sendo, por isso, uma decisão da própria empresa. O fim dos tarifários STCP ocorrerá no próximo dia 1 de Janeiro de 2013.

2 - Quais as vantagens em aderir ao tarifário Andante?

As vantagens são várias. Primeiramente, pode utilizar todos os meios de transporte que aceitem este sistema, dentro de uma zona pré-definida. Ou seja, deixa de estar limitado somente aos autocarros da STCP. Pode utilizar os serviços do Metro do Porto, dos comboios Urbanos da CP e algumas carreiras de Operadores Privados. Por outro lado, passa a pagar apenas as zonas de que necessita para se deslocar, evitando por exemplo pagar uma mensalidade ou uma viagem por um serviço que realmente não vai usufruir. Tudo isto sem perder a facilidade de carregamentos das suas viagens ou da assinatura nos locais habituais, como os Agentes Payshop, os Postos STCP e as lojas Andante, por exemplo. 

3 - Quais as diferenças de zonas entre o tarifário Andante e o tarifário STCP?

Enquanto as zonas da STCP estariam essencialmente divididas em três (A - Porto; B - Periferia Norte; C -  Vila Nova de Gaia) o sistema de Zonas Andante consiste em zonas pré-definidas, conforme se ver no mapa em anexo. O número minimo de zonas em que se pode viajar são duas (bilhete ou assinatura Z2) enquanto que o número máximo de zonas é doze (Z12). 



4 - Os novos tarifários irão provocar um aumento de preços?

Depende muito de caso para caso. Por exemplo, alguém que viva no Hospital de S. João e tenha que se deslocar até á Foz (ambas na cidade do Porto) e que tenha uma assinatura normal (A - Porto), passa de uma mensalidade de 21 para 36 euros, dado que passaria a pagar a mensalidade de uma assinatura Z3. Todavia, se alguém residir por exemplo em Ermesinde (Valongo) e queira ir, por exemplo para Aldoar (Porto) e pague por uma assinatura mensal CP + STCP, acaba por pagar menos, pois o valor da assinatura CP + STCP é de 53,20 euros (32,20 da CP + 21 euros da STCP) enquanto que uma assinatura Z4 tem o valor de 47 euros - com a vantagem de se poder utilizar o comboio, autocarros e o Metro. Sugerimos uma consulta aos preços que abaixo anexamos, para se ter uma ideia dos valores a pagar.

Retirado do site da STCP

5 - Quais os tipos de assinaturas existentes? A quem se destinam?

As assinaturas existentes e os seus destinatários constam no quadro em anexo.


6 - Sou estudante. O Tarifário Andante tem preços específicos para mim?

Sim, o Tarifário Andante tem assinaturas com preços para estudantes.

7 - Tenho mais de 65 anos, e sou reformado com uma reforma de pequeno valor. Tenho passe STCP para fim de semana. O Tarifário Andante tem alguma assinatura para mim?

Sim, todavia, deixará de ter um tarifário especifico para os fins de semana. Pode adquirir uma assinatura mensal com as zonas que precisa de percorrer e usufruir dos tarifários Andante Social +. 

8 - Tenho passe da CP + STCP. Preciso de mudar de assinatura?

Sim, vai precisar de mudar a assinatura do seu tarifário STCP para um tarifário Andante. Se reside numa estação que não esteja abrangida nos percursos Porto - São Bento / Espinho; Porto - São Bento / Valongo e Porto - São Bento / Travagem pode manter a sua assinatura CP. Nos restante casos, embora possa manter uma assinatura da CP compensa mais fazer a mudança total para o Andante, pois as assinaturas são aceites nos percursos acima descritos, nos comboios suburbanos da CP.

9 - Tenho passe da CP e uso só o comboio. Preciso de mudar de assinatura?

Não. O passe da CP mantém-se inalterado. Todavia, nos percursos Porto - São Bento / Espinho; Porto - São Bento / Valongo e Porto - São Bento / Travagem pode alterar a sua assinatura para Andante e ganhar acesso a outros serviços de transporte. 

10 - Tenho passe de um Operador Privado e da STCP. Terei que mudar de assinatura?

Sim, mas só no que toca á parte da STCP - para o tarifário Andante. Mas existem Operadores Privados que aceitam Andante em algumas das suas carreiras, pelo que poderá compensar fazer a mudança integral para este tarifário.

11 - Onde posso alterar a minha assinatura? Quais os horários de atendimento?

Os locais de venda e os horários constam no quadro em anexo. 


12 - A alteração para o Tarifário Andante é gratuita?

Sim, é gratuita. Todos os clientes que já têm um cartão STCP podem simplesmente fazer a alteração de perfil para o Andante. A alteração de perfil não implica a compra de um novo cartão e pode ser feita com um carregamento da STCP que ainda esteja válido, sem que seja necessário carregar de imediato uma assinatura Andante.

13 - Que documentos necessito para poder usufruir do Andante Social +?

Os documentos são vários, e variam de caso para caso. Pode consultá-los no quadro em anexo. 


14 - Que acontecerá se precisar de comprar um bilhete a bordo do autocarro?

Não existirão quaisquer alterações. O Agente Único manter-se-á com as condições em vigor.

15 -  Ainda tenho viagens carregadas no meu bilhete STCP. Até quando posso utilizá-las?


Pode utilizá-las até ao dia 31 de Janeiro de 2013.


Fontes:
- Folhetos da STCP que se encontram a bordo dos autocarros (Novembro 2012);
- Site da STCP
- Site da CP
- Site do Andante

Autocarros Série 1201 - 1220: Volvo B9LA / Caetano City Gold (Gasóleo)

Em 2009 corriam tempos de mudança na STCP. A Nova Rede tinha sido implementada nos dois anos anteriores, e a renovação da frota de autocarros articulados com trinta unidades a Gás Natural passaria a ser uma realidade, com a série 1100 a mostrar serviço. 
Todavia, a STCP procurava satisfazer a necessidade de ter uma frota de autocarros de alta capacidade para "linhas com maior procura em horas de ponta, com passagem em arruamentos com grande número de autocarros, e em linhas com elevada frequência onde é difícil  introduzir mais autocarros". Por outro lado, a política da empresa passava pela diversificação energética da sua frota, pois o  o seu parque de autocarros contava com uma percentagem de 54% de veículos a Gás Natural e 46% a Diesel. 

Pormenor dos autocarros, nas instalações da Salvador Caetano.

Foi lançado um concurso público internacional, da qual saiu vencedora a Auto-Sueco, representante da marca Volvo. Esta empresa iria fornecer 20 autocarros da marca sueca que seriam carroçados pela empresa Salvador Caetano. 

Os novos autocarros, parqueados nas instalações da Salvador Caetano, em Vila Nova de Gaia.

O contrato de adjudicação decorreu no dia 14 de Julho de 2009, com a presença da então Secretária de Estado dos Transportes, Dra. Ana Paula Vitorino. A entrega dos autocarros estava prevista para os meses de Março e de Abril de 2010. Todavia, os mesmos entraram ao serviço em Agosto deste ano, após uma apresentação oficial que decorreu na Recolha de Francos - que incluiu uma viagem experimental entre esta Recolha e a Recolha da Via Norte.


Fotos ilustrativas da apresentação dos autocarros. Autoria de Joaquim Martins e retiradas do site Transportes XXI.

Pensados para "linhas com muitas entradas de passageiros ao longo do seu percurso e com saídas de passageiros muito perto dos seus términos”, estes autocarros foram atribuídos à estação de recolha da Via Norte, dado o espaço existente e o facto de albergar toda a frota a diesel da STCP. 
Inicialmente, estes autocarros foram destinados para as linhas 701, 702, 703 e 800. Posteriormente a linha 703, devido á sua procura, deixou de estar contemplada com esta série, que passaria a ser  utilizada nas linhas 200 e 305 cuja procura justifica esta opção. 


O autocarro 1218 em dois cenários diferentes: perto das Antas (em cima) e a sair da Estação de Ermesinde (em baixo).

Estes autocarros dispõem de piso rebaixado, para albergar comodamente os passageiros que podem contar com 48 lugares sentados e 96 lugares em pé, assim com espaço para cadeira de rodas e rampa de acesso para os passageiros com mobilidade reduzida. Os motoristas podem contar com um posto de condução confortável para o desempenho do seu trabalho, assim como diversos sistemas que garantem a segurança dos passageiros como o ABS e o EBS. Note-se, de forma curiosa, de que a disposição do motor "obriga" a roubar alguns lugares na traseira do autocarro - estes dispõem de três lugares sentados, enquanto que num autocarro comum esse número eleva-se para cinco. 
 

Dois pormenores do interior destes autocarros - o posto de condução e o salão de passageiros.

Esta série de autocarros já cumpriu outras missões que lhe foram atribuídas, nomeadamente o transporte de passageiros para a Queima das Fitas, nas suas edições de 2011 e 2012. Felizmente, e até à data deste post, não são conhecidos quaisquer acidentes graves com esta série de autocarros. Tudo leva a crer que estes veículos poderão permanecer alguns anos na frota da STCP, pois a sua versatilidade e as suas dimensões permitem a sua utilização em qualquer linha cuja procura assim o exija.

Autocarro 1220 próximo do Museu Soares dos Reis. 

Características técnicas:
Marca: Volvo
Modelo Chassis: B9LA
Modelo Carroçaria: Caetano City Gold CB518
Cilindrada do Motor / Potência: 9,4 litros / 360 cavalos
Caixa de velocidades: Automática, de marca Voith
Peso: 29 toneladas
Numero de portas: 3, de folha dupla
Lotação: 48 lugares sentados + 96 lugares de pé + cadeira de rodas +  motorista

Outras características:
Recolha a que estão afectos: Via Norte
Linhas que operam: 200, 305, 701, 702, 800 
Linhas que operaram: 703, 801 (nocturno) 
Serviços ocasionais prestados: Queima das Fitas 2011 e 2012
Equipado com: indicadores de destino LED, dois validadores, espaço para cadeira de rodas e carrinho de bebé, rampa de acesso para passageiros de mobilidade reduzida, ABS, EBS, travões de disco nos três eixos do autocarro. 

Fontes utilizadas para este artigo:
- Transportes XXI;
- Cargo Edições;

29/10/12

Greves, formas de luta e de comunicação entre trabalhadores

Em qualquer empresa, num país democrático, a greve é um direito consagrado e uma forma legitima de luta. Independentemente das motivações que levam os trabalhadores a fazerem greve, a verdade é que esta forma tem sido utilizada em Portugal ao longo das últimas décadas, desde o 25 de Abril.

É uma verdade que, quando se trata de transportes colectivos, quem sofre mais com as greves são os passageiros que a utilizam. São as filas de espera nas paragens, são as frustrações que cada pessoa carrega consigo, a angústia de não chegar a horas ao emprego. É a incerteza do transporte que nunca mais chega. E é a sensação amarga de (quem tem passe ou comprou uma senha com viagens carregadas) de ter pago por um serviço que não usufrui.


 Aviso de Greve por parte da STCP, retirada do site da empresa.

E é certo que amanhã, no Porto e nos concelhos à volta, vamos ter mais um dia assim - cerca de oito horas - sem que boa parte dos serviços da STCP estejam a funcionar normalmente. É certo que existirão alguns motoristas que se apresentarão ao trabalho e farão as linhas que lhes atribuírem, como se fosse um dia normal. 

O que é certo, é que desde o advento da democracia no nosso país, as greves têm sido uma forma de luta por parte dos trabalhadores da STCP e os sindicatos têm sido as organizações que se batem pela defesa dos interesses de quem trabalha. A verdade é que a "revolução dos cravos" despertou nas pessoas a necessidade (e também a liberdade) dos trabalhadores se organizarem para discutir os seus problema laborais e também defenderem os seus interesses junto de quem dirige a empresa, nomeadamente, o Conselho de Gerência (agora designado Conselho de Administração).


Greves
Hoje vamos recordar uma das (muitas) greves que se sucederam na empresa, nomeadamente em Novembro de 1976. A greve sucedeu-se devido ao facto dos motoristas terem assinado um Contrato Colectivo de Trabalho com a Empresa, em que algumas das clausulas não estariam a ser cumpridas por aquela entidade (nomeadamente subsídios relacionados com as refeições). Foi uma greve que durou alguns dias (oito), o tempo suficiente para que se tornasse impopular junto dos passageiros - impopularidade essa que os jornais ajudavam a transmitir, quer através das noticias, quer através das crónicas de opinião de alguns jornalistas.Até porque seriam as "classes desfavorecidas" que "andariam a pé"...

Primeira página de "O Comércio do Porto", Novembro de 1976

E com efeito, nessa semana, os efeitos da greve fizeram-se sentir e em força. Na empresa, só a frota de carros eléctricos se apresentou ao serviço, o que, naturalmente, fez com que os eléctricos andassem á pinha. Era perfeitamente visível a existência de filas nas paragens, e, à medida que o tempo passava, a impaciência dos passageiros aumentava e os artigos de opinião nos jornais (nomeadamente, "O Comércio do Porto) reflectiam precisamente o sentimento de desagrado de toda a população. Até porque se a luta dos trabalhadores era "justíssima", a verdade é que os motoristas do STCP estariam a "prejudicar outros trabalhadores" com esta greve.



Diversas páginas de "O Comércio do Porto", Novembro de 1976

E assim, quando a greve foi levantada, foi com "simpatia e carinho" que o público recebeu os motoristas, quando estes voltaram ao trabalho. Todavia, nem tudo foram rosas, até porque na recolha da Areosa (onde estavam estacionados os tróleis) assistiram-se a alguns incidentes, nomeadamente pedradas na portaria e nos vidros de um trólei.

Noticia retirada de "O Comércio do Porto", Novembro de 1976

Depois desta greve, muitas outras se seguiriam. Umas de zelo (a "greve da mala" dos cobradores) e outras em que as viaturas não saíam das estações de recolha. É uma situação que tem ocorrido até aos nossos dias, e amanhã será mais um exemplo de como a greve é uma forma de luta. 


Formas de luta e de comunicação
Mas quando se quer lutar por melhores condições de trabalho, fazer-se representar junto de quem decide na empresa, é necessário organizar uma estrutura para esse fim. E para isso é necessário gente que se disponha a fazer esse trabalho. E também é necessário esclarecer, e informar os trabalhadores dos seus direitos, dos seus deveres - e daquilo pelo qual se pode e deve lutar.

Se é verdade que hoje as formas de comunicação estão muito mais facilitadas - a Internet, com o Facebook, os blogues, as páginas de cada organização, os fóruns - anteriormente não era assim tão fácil comunicar com todas as estruturas da empresa.

Talvez por isso (e porque também no pós 25 de Abril a ideologia comunista tinha uma enorme influência junto das classes trabalhadoras) surgiu, entre os trabalhadores do STCP, a ideia de fazer um jornal de, e para quem lá trabalhava. Tive acesso a alguns números (não muitos), embora não possa dizer concretamente qual a duração do jornal. Posso dizer que a maioria dos exemplares datava de 1975. Uma altura fortemente conturbada, portanto.
Primeira página de "Jornal dos Trabalhadores do STCP", Abril de 1975

Basicamente, os assuntos passavam desde a organização de um sindicato único para todos os trabalhadores dos Transportes Colectivos a nivel nacional, ou as negociações junto do Conselho de Gerência; até aos assuntos mais correntes, como o (mau) comportamento de algumas chefias ou as peripécias protagonizadas por pessoal que, alegadamente, teria mais qualificações que os motoristas e mecânicos. 

Uma página do jornal referido

Confesso que não sei onde o jornal era editado, mas quem o lia e quisesse de forma alguma participar, com opiniões ou artigos, teria que o enviar para um apartado na Areosa. Portanto, desconfio que era na Recolha que o Jornal era escrito e impresso.

Uma carta aberta ao Conselho de Gerência e uma noticia de publicação do Acordo Colectivo de Trabalho no "Jornal dos Trabalhadores do STCP".

Actualmente, os trabalhadores da STCP encontram-se representados por vários sindicatos: STRUN (Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte), SITRA (Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Portugal) SNM (Sindicato Nacional dos Motoristas). Encontram-se igualmente representados por uma Comissão de Trabalhadores,  que, segundo a sua página no Facebook "Representa todos os trabalhadores permanentes da STCP, independentemente do grupo profissional em que se enquadrem e da função e ou categoria profissional que desempenhem, sem qualquer discriminação baseada no sexo, raça, idade, convicções politicas, sindicais, religiosas, ou qualquer outro facto que atente contra os direitos, liberdades e garantias fundamentais do homem. A CT-STCP é composta por 11 elementos eleitos para mandatos de 2 anos." Esta comissão nasceu em Abril de 1983 e exerce as suas funções em todos os locais de operação da empresa. 


Fontes:
-  Jornal "O Comércio do Porto", Novembro de 1976 (Arquivo da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto)
- "Jornal dos Trabalhadores do STCP", 1975 (Vários exemplares - Arquivo da Biblioteca Pública Municipal do Porto) 
-  Jornal de Noticias (www.jn.pt)
-  Site da STCP (www.stcp.pt)

25/10/12

Cores, números e letras - formas de identificação nos Transportes Colectivos

Quem anda nas ruas do Porto (e não só), e utiliza os serviços da STCP; sabe que os seus autocarros têm a cor azul e branca, assim como as suas linhas são identificadas por três algarismos ou por letras - se bem que quem utilize os serviços da  rede Madrugada saiba que números e letras convivem na numeração das linhas.
Mas nem sempre foi assim. Tempos houve em que as cores dos eléctricos, autocarros e tróleis eram diferentes, assim como a forma de se identificar as linhas / carreiras. Existem muitas pessoas que se recordarão bem como foi.

Hoje, proponho uma pequena viagem no tempo, naquilo que são as cores, números e letras dos Transportes Colectivos do Porto.

  As cores
Nos anos 40, altura em que foi então fundado o Serviço de Transportes Colectivos do Porto, o esquema de cores nos carros eléctricos baseava-se no castanho-claro (igual ao que os actuais carros eléctricos utilizam). Foi aliás, com este esquema de cores que os primeiros autocarros da empresa entraram ao serviço - assim como os últimos eléctricos a serem construídos na cidade do Porto (os Pipis e o eléctrico 500).
Este esquema foi-se mantendo durante algum tempo, até á entrada em serviço dos primeiros tróleis. E aqui começou a haver uma distinção clara de cores: os eléctricos mantiveram-se castanhos; enquanto que os autocarros passaram a ter a cor verde; e os tróleis estrearam-se com a cor vermelha.

Foto de JHM0284

Foto de Ernst Kers

 Foto de Peter Haseldine, retirada de VASCONCELOS et al (2010)

Foi um esquema que vigorou durante toda a década de sessenta do século XX e parte da década de setenta. Todavia, os autocarros Volvo que foram adquiridos em 1973 já vinham com uma cor diferente: o laranja. E este esquema foi-se impondo, a pouco e pouco, aos restantes veículos da frota. O laranja facilitava a visibilidade dos veículos, sobretudo à noite.

Todavia, os eléctricos constituem uma excepção. Continuavam a manter a cor original, até porque eles eram vistos como um elemento a substituir. Com efeito, as linhas de eléctrico iam sendo substituídas por linhas de tróleis e, sobretudo, por linhas de autocarros. Daí que, tirando a publicidade, nenhum eléctrico teria direito a esquemas de pintura renovados. Era uma realidade que se manteria durante toda a década de oitenta, em o laranja era praticamente a cor oficial do Serviço.

Foto de Tim Boric, retirado do site de Ernst Kers.

 Foto de Tony Walmsley


Porém, no inicio da década de noventa, mudar-se-ia outra vez o esquema de pintura dos veículos - com a entrada dos primeiros autocarros Mercedes - Benz - em que o laranja partilharia a primazia com o branco. Mas desta vez, a renovação seria reservada apenas aos autocarros - pois os troleicarros teriam um fim anunciado em breve.

Foto de autor desconhecido. Fonte desconhecida, retirada de pesquisa de imagens no Google.

Autocarro 1014, próximo do Hospital S. João - verão de 2006.

E em 1998, com a entrada em serviço de mais 90 autocarros (os actuais 1700), assistiu-se a uma nova mudança de esquema de cores em que todos os autocarros foram, gradualmente, passando as suas cores para o azul-e-branco - exactamente aquele que hoje está em vigor para toda a frota. Tal se deve ao facto de, através de um inquérito, a população ter manifestado essa vontade. O azul-e-branco eram as cores de uma instituição que melhor personificava a cidade: o Futebol Clube do Porto.

 Autocarro 1110 na Rua de Sá da Bandeira, desde sempre com este esquema de cores.

Autocarro da série 1700. Foram os autocarros desta série que estrearam este esquema de cores.

Os eléctricos, vendo cada vez mais os seus percursos a diminuir quer em número, quer em extensão, mantiveram com as cores inalteradas. Hoje, até por uma questão de tradição e de diferenciação face á frota de autocarros, continuam a manter o mesmo esquema de sempre. Todavia, isso não impediu com que os eléctricos se apresentassem com um ar renovado, face aos trabalhos de restauro a que foram sujeitos. 

 Eléctrico 205, um dos eléctricos que se mantém ao serviço da empresa e que foram alvo de renovação.

 Números e letras
Em 1946, com a fundação então do Serviço de Transportes Colectivos do Porto, as linhas de eléctrico eram identificadas por números. Era um esquema que vigorava ainda no tempo da sua antecessora a Companhia de Carris de Ferro do Porto (CCFP). Note-se, a titulo de curiosidade, que o sistema de números nas linhas de eléctrico vigorava desde 1912.

Por norma, um número significava uma linha. Mas se o número tinha um ou mais traços (/) ou terminava em E, era sinal que o seu percurso teria uma variante - normalmente um encurtamento ou um término diferente. Para se ter uma ideia, deixo aqui um exemplo:

10 - Bolhão - Bonfim - São Roque - Venda Nova
10/ - Bolhão - Bonfim - São Roque - Santa Eulália - São Pedro da Cova
10// - Bolhão - Bonfim - São Roque - Santa Eulália - Gondomar
10E - Praça da Liberdade - Bolhão- Bonfim - São Roque

Todavia, em 1948, aquando da entrada em serviço dos autocarros, a empresa decidiu (possivelmente para evitar confusões com o serviço dos eléctricos)  atribuir letras ás linhas de autocarro, que saiam todas das Avenida dos Aliados. A primeira linha a entrar ao serviço foi a linha C (Carvalhido), ao qual se juntaram depois as linhas D (Antas) e A (Foz). Mais tarde, em Outubro, foi a vez da linha B (Paranhos) entrar em funcionamento.


Quanto aos troleicarros, a sua missão inicial seria a de prestar um serviço que substituísse o dos carros eléctricos. Com efeito, detectou-se que a Ponte D. Luís I sofria de problemas estruturais causados pela rede de carros eléctricos. E assim, em 1959, os eléctricos começaram então a circular pelas ruas de Vila Nova de Gaia. Repare-se que numa primeira fase, a numeração dos tróleis também não coincidia com a dos eléctricos, muito embora também fosse constituída por algarismos. Optou-se então por numerar as linhas dos troleis com os números 31,32,33 e 36 - para assim, também não haver hipóteses de confusão com as linhas dos carros eléctricos.

Todavia, não deixa de ser curioso que na altura da substituição das linhas de carros eléctricos por tróleis (nas linhas de Gondomar e Ermesinde) se atribuísse a numeração igual ou próxima dos eléctricos que até então circulavam. Por exemplo, a linha 9 (Bolhão - Ermesinde)  dos eléctricos manteve o número quando passou para troleicarro. A linha 10 dos eléctricos (e as suas variantes) foram renumeradas como 10, 11 e 12, com destinos para a Venda Nova, S. Pedro da Cova e Gondomar, respectivamente.

Porém, em 1967, no que toca á rede de autocarros, as letras do alfabeto já estavam (quase) todas preenchidas. Todavia, surgiam mais e mais solicitações de novas carreiras. Como é que então o STCP ia resolver o problema? De uma forma relativamente simples. Todas as novas carreiras de autocarros teriam números, mas com o prefixo um (1) à frente - por exemplo, foram criadas as linhas 101 (Avenida dos Aliados - Lomba) ou 159 (Bolhão - Aldeia Nova). Os electricos e os tróleis mantinham o sistema de um/dois algarismos.

Em 1974, sopraram ventos de mudança. A partir de Abril, todas as novas linhas que se criavam seriam numeradas em sistema igual ao dos eléctricos e dos tróleis. E em Julho, a empresa decidiu unificar a numeração da sua rede: a partir dessa data desapareceriam as letras e os números com três algarismos na rede de autocarros, passando toda a rede da empresa a ser identificada de igual forma: com numeração a um/dois algarismos.

Noticia de "Jornal de Noticias", de 23 de Abril de 1974, que exemplifica a nova de numerar as linhas de autocarros a criar. 

 Avisto do STCP; indicando a alteração da identificação das linhas de autocarro já existente; publicado no jornal "O Comércio do Porto", em 15 de Julho de 1974.

Tirando algumas linhas especiais (como o serviço Aerobus, por exemplo) ou algumas linhas que funcionavam durante curtos períodos de tempo, durante 33 anos a numeração da empresa não sofreu qualquer tipo de alteração.

Todavia  em 2006, algumas linhas passaram a ser numeradas a três digitos - seria a preparação da "Nova Rede", que daria origem à rede de autocarros com a identificação actual. As únicas excepções são as linhas "locais", com identificação Z (ZR e ZM, por exemplo) ou as linhas da Madrugada, que combinam letras e números. No entanto, os eléctricos continuam a ter um sistema diferente, visto que têm numeração a um ou dois dígitos. 




Fontes:
- Blog de Cristopher Leach,
- Site de Ernst Kers;
- Site de Carlos Lima;
- Flickr de JHM0284;
- Flickr de Tony Walmsley;
- Flickr da STCP;
- Jornal o Comércio do Porto, Julho de 1974;
- PT/ADPRT/EMP/STCP > Recortes de Jornais de 1972 a 1974 > Arquivo Distrital do Porto

Bibliografia:
- VASCONCELOS, António et al: Troleicarros do Porto: Quatro Décadas na Cidade; Ordem dos Engenheiros - Região Norte, Porto, 2010;
- PACHECO, Helder: Porto, Cultura em Movimento; Edições Afrontamento; Porto; 2008;
- MONTERREY, Guido: O Porto, origem, evolução e transportes; edição de autor; Porto; 1972

26/09/12

Um apelo civico...



Esta fotografia é de hoje.

E posso dizer que este autocarro ficou bloqueado, pelo menos, durante cinco minutos. Cinco minutos em que não pôde cumprir o horário, não pôde levar os passageiros ao seu destino. E tudo porque duas pessoas (dois automobilistas) quiseram, pura e simplesmente, deixar o seu carro (mal) estacionado, sendo que num dos lados estava em transgressão (tinha uma linha amarela).

É certo que o estacionamento é cada vez mais difícil de arranjar e mais caro. É certo que nem toda a gente, devido á sua profissão (necessidade de deslocações constantes, horários de trabalho incompatíveis com os serviços de transporte público, insegurança durante a noite) não pode deixar o carro em casa. Mesmo que seja a opção mais cara.

Mas também é certo que muito boa gente usa o automóvel e até poderia optar pelos transportes colectivos. Mas isso já é outra história. Cada um toma as opções que bem entender. Só não é admissivel é que o bem estar de uns seja o prejuízo de outros. E há atitudes que levam a que toda a gente fique a perder. E estacionar (mal) os automóveis na via pública, sobretudo quando passam autocarros e / ou eléctricos é uma dessas atitudes.

E como é que toda a gente fica a perder?

Vamos imaginar que alguém, como hoje, estaciona mal um carro, impedindo o autocarro de passar. Mesmo que seja por cinco minutos. Pois bem, esses cinco minutos significam atrasos, impedindo passageiros de chegar ao seu destino a tempo e horas. Esses cinco minutos podem ser cruciais para as pessoas que depois têm que tomar outros meios de transporte (metro, comboio, ou mesmo outro autocarro) e assim, não têm garantias que os conseguem apanhar a tempo e horas. E por vezes, a perda dessas ligações pode significar um atraso superior a cinco minutos, ou até mesmo um atraso de horas. E hoje todos nós sabemos que chegar atrasado à escola ou ao trabalho (sobretudo neste último caso) pode ser problemático. Pode significar a perda de um dia de salário. Ou então significa passar-se a ser um alvo fácil para um eventual despedimento que se tenha de fazer.

Também vamos imaginar que alguém estaciona mal um carro, mas em vez de uns cinco minutos, bloqueia o autocarro durante duas horas. Ora bem, para além daquilo que eu referi anteriormente, essas duas horas de bloqueio significa que o autocarro não consegue fazer mais viagens (pelo menos uma parte das viagens programadas para aquele dia), as pessoas que estão nos autocarros chegam ainda mais atrasadas aos seus destinos. Isto sem contar com todas as pessoas que estão à espera do autocarro nas paragens seguintes ao bloqueio - ficam sem uma viagem que lhes permita chegar a tempo e horas aos seus destinos.

Isto mesmo que depois seja colocado mais um autocarro para substituir o que está bloqueado e se desviam os outros por ruas alternativas, existirão sempre pessoas que não terão os seus autocarros atempadamente.

E isto gera frustrações, reclamações que os motoristas e restante pessoal da empresa ouvem (e registam) e insatisfação geral com o serviço. E se este tipo de coisas acontecer com frequência, é garantido que haverá sempre alguém que deixará o transporte público de lado e comece a usar o automóvel.

Ora isto significa que muito provavelmente, quem estaciona mal o carro poderá contribuir para que haja ainda menos espaço para estacionar, mais filas de trânsito, mais stress, mais acidentes. E combustíveis mais caros (mais procura significa aumento de preço) e lugares de estacionamento com um preço ainda mais alto para pagar.

Por outro lado, a STCP é uma empresa pública. Logo, é mantida não só com o dinheiro dos passes e bilhetes, como também com o dinheiro arrecadado com os impostos que todos pagamos. Será que alguém gostaria de manter, com os seus impostos, uma empresa ineficiente?

Com a crise que todos atravessámos a resposta seria óbvia: um rotundo e grande NÃO. E se afinal, grande parte da ineficiência da STCP se deve, de facto, ás atitudes menos próprias de alguns condutores que, (também) sendo pagadores de impostos, de certeza que não iriam gostar de os pagar a uma empresa ineficiente; qual seria a resposta que essas pessoas teriam para dar perante a sua atitude?

Não espero que da noite para o dia as pessoas mudem as mentalidades. Mas se pôr pelo menos uma pessoa a pensar nisto, já valeu a pena.

Fica o mote para a reflexão...


25/09/12

Adeus ZL, viva a 209!

A partir do dia 1 de Outubro, a STCP vai implementar uma mudança - importante - numa das suas linhas. A actual linha ZL (Zona Lordelo) terá um prolongamento do seu percurso e deixa de ser uma linha circular. Passará a ser a linha 209 (Prelada - Boavista). 

Retirado do Site da STCP.

Esta alteração visa servir os utentes do Hospital da Prelada, assim como os residentes nas áreas do Campo Alegre, Cidade Cooperativa da Prelada, Pasteleira e Mouteira. Também vai ser mais uma opção para as pessoas que trabalham e estudam nas faculdades instaladas no Campo Alegre.

Esta alteração vem ao encontro das solicitações de diversas entidades - Câmara Municipal do Porto, Junta de Freguesia de Ramalde, Hospital da Prelada - assim como dos utentes do Hospital e da Cidade Cooperativa. Esta linha, para além de servir estas localidades, permitirá uma maior acessibilidade a outros meios de transporte, como o Metro (dado que terá uma paragem no interface da Casa da Música).

O percurso terá oito quilómetros, com 21 paragens no sentido Pasteleira - Prelada, enquanto que no sentido contrário existirão 23 paragens. Contar-se-á com um tempo médio de 33 minutos em cada viagem, fruto da melhoria da rede viária e da existência de novas ruas. 

A linha funcionará todos os dias, entre as 6h45 e as 19h30. Terá frequências de 30 em 30 minutos (semana) e de 40 em 40 minutos (fim-de-semana).

14/09/12

Passes de Estudante

Setembro, mês do regresso ás aulas.

Mês em que muitos jovens, desde miúdos a graúdos, voltam aos bancos da escola. Os da Universidade também começam a regressar à rotina escolar, se bem que eles regressem em força mais para Outubro.

E é nesta altura do ano em que vemos que os comboios, as composições de metro, e os autocarros  a começarem a ficar mais compostos, cheios de gente para ir para as aulas.

E é também nesta altura do ano que os pais começam a fazer contas aos livros e materiais da escola. Mas também muitos pais fazem as mesmas contas e começam a tratar de outros assuntos, entre os quais o passe que permite aos filhos irem e virem das aulas. É aquele momento em que tem que se ir á secretaria da instituição de ensino, para depois entregar à empresa de transportes que depois ou emite um passe novo, ou renova o perfil do passe que os filhos (ou outros familiares) já têm.

E este ano, o Governo avançou com algumas novidades: os Passes 4_18 e os Passes sub23 passaram a ter regras mais rígidas para o seu acesso.

Mas, para ver como os tempos passam e as vontades mudam,  aqui mostro dois passes de estudante da STCP. Um dos finais dos anos 80 e outro do inicio deste século. 


Dois exemplos de passes de estudante da STCP.
 
Hoje, temos passes em que é obrigatório fazer-se a validação à entrada do autocarro. Mas como podem ver, antigamente não era assim. Todos os meses comprava-se o selo de cada mês. E à entrada do autocarro, bastava mostrá-lo ao motorista. Por vezes, uma ou outra pessoa mais esquecida podia entrar no autocarro com o selo do mês anterior. Posso dizer que a história nem sempre acabava com o pagamento de uma senha ou com a saída forçada (e pouco gloriosa) do infractor...

Por outro lado, hoje, um estudante pode andar onde quiser (desde que seja dentro das zonas por si escolhidas) e quando quiser (mesmo ao Sábado ou ao Domingo). Mas nem sempre foi assim. Os passes tinham inscritos os números das linhas. E não era por acaso. Correspondiam ás linhas que passavam próximo das escolas. Se dentro do Porto, podiam andar em qualquer linha da rede STCP, fora do Porto só mesmo nas linhas inscritas no passe, ou em linhas que tivessem um percurso comum com estas.

Por outro lado, utilizar o passe, só mesmo de Segunda a Sábado e dentro do período lectivo. Mas recordo-me que tinha um preço simpático, para a altura. Só era mesmo incómodo ter que ir ao Porto comprar o selo, até porque não havia o fenómeno das lojas Payshop, que permitem fazer carregamentos de tudo e mais alguma coisa.

Por isso, e para concluir, digo que pelo menos aqui no Porto, a vida dos estudantes está mais facilitada no que toca nos transportes. Resta mesmo saber se noutros capítulos a vida de estudante será assim tão "fácil"... 

PS: Para a elaboração deste artigo, agradeço a inestimável colaboração do prezado amigo Ricardo Taveira. Um bem-haja para ele.






15/08/12

Greve na STCP com pouca expressão

"A greve desta quarta-feira na Sociedade de Transportes Coletivos do Porto não teve reflexos no serviço da madrugada e afetou apenas o serviço de 10 dos 115 autocarros escalados para o princípio da manhã, disse fonte da transportadora. 

Cerca das 9 horas, estavam em circulação 105 dos 115 autocarros previstos, ou seja, 91,3% da frota escalada, afirmou a fonte.  

A rede da madrugada funcionou a 100%, acrescentou, citando números da 1 hora. 

Contactado pela agência Lusa, o dirigente sindical Jorge Costa admitiu que estes números "não estão muito distantes da realidade" e das previsões das estruturas representativas dos trabalhadores, "que apontavam para adesões à greve de 20 a 30%, nas primeiras horas dos turnos. 

Jorge Costa disse que as instruções dadas aos trabalhadores foram no sentido de pararem na ponta final dos turnos, "de forma a minorarem o seu prejuízo". 

Neste sentido, o dirigente sindical previu que os reflexos da greve se façam sentir mais nos períodos entre as 12 e as 14 horas, bem como no final do dia. 

Os sindicatos rodoviários convocaram para esta quarta-feira greves em diversas operadoras públicas para contestar as alterações introduzidas na revisão do Código do Trabalho". 





20/07/12

78 – Um conceito único de autocarro

Há alguns anos atrás (cinco, para ser exacto), existia uma linha que, podendo não ser a mais conhecida dos passageiros da STCP, seria, uma das linhas mais carismáticas que esta empresa tinha.            
Esta linha era a única que atravessava a cidade do Porto, de lés-a-lés, passando pela Baixa. Era também uma das linhas que ligava entre si o maior número de locais importantes da cidade, entre hospitais, faculdades, jardins e locais de comércio.E também era a linha que levava não só muita gente ao futebol (passava nas proximidades dos estádios das Antas e do Bessa) como também, e principalmente, levava muitas gerações de portuenses para as praias.
É precisamente desta linha que hoje iremos falar. Da linha 78 (Hospital de São João – Castelo do Queijo), uma das mais longas de toda a rede STCP (entre as décadas de setenta e de noventa do século XX) como era a mais longa dentro da cidade do Porto.

Mapa com o percurso do 78. O percurso a azul era o que se fazia de dia, enquanto que o percurso a preto era o nocturno. Retirado da versão antiga do site da STCP.

O começo
 Quem tem acesso aos livros e a toda a documentação relativa à história da STCP, saberá que os autocarros começaram a circular em Abril de 1948, com a linha C (Avenida dos Aliados – Viso). É desta linha que se fala essencialmente quando se fala da história dos autocarros desta empresa.         
Todavia, em Junho desse ano, a segunda  linha a ser inaugurada (no dia um de Junho de 1948) seria a linha D (Avenida dos Aliados – Antas). Saía da Avenida dos Aliados e seguia para esta última localidade através da Avenida Fernão de Magalhães, num percurso igual ao que hoje é assegurado pela linha 305.
 Artigo do jornal "O Comércio do Porto", de Junho de 1948, sobre a nova linha D. 

O primeiro autocarro a efectuar a linha D, no artigo d´"O Comércio do Porto, de Junho de 1948.
E em dia de S. João desse mesmo ano (vinte e quatro de Junho), o então Serviço de Transportes Colectivos do Porto inaugurava a linha A (Avenida dos Aliados – Foz) que servia as áreas residenciais do Campo Alegre, da Avenida Marechal Gomes da Costa e da própria Foz. Tudo áreas que já eram (e continuam a ser) consideradas das mais elegantes e selectas do burgo. 
 Aviso do STCP, a anunciar a nova linha A. Retirado do Jornal "O Comércio do Porto", de Junho de 1948. 

Novos tempos   
Durante vinte e seis anos, estas duas linhas coexistiram separadamente. A D levava as pessoas da Avenida dos Aliados até ás áreas residenciais das Antas (inicialmente) e ao bairro Costa Cabral e á Areosa (mais tarde, quando a linha foi prolongada até ao Hospital de S. João), sendo o percurso feito na então designada Via Nordeste (actual Via Fernão Magalhães). A linha A levava os passageiros ás ditas áreas selectas da Foz, como referimos anteriormente. Mas em vinte e seis anos, muita coisa muda: a cidade do Porto expande-se cada vez mais para fora do centro, são abertas novas vias de trânsito dentro da cidade, constroem-se centenas de milhares de casas (incluindo os famosos bairros sociais) para não só albergarem as pessoas vindas do interior do nosso País, como também os habitantes das famosas “ilhas”, que proliferavam no centro do Porto.
E é nesses novos tempos que surge então a necessidade da empresa se adaptar ás exigências de um público que, na altura se tornava cada vez mais numeroso e que exigia cada vez mais recursos. Daí que a empresa se tenha decidido em unir as linhas A e D, passando a identificar a nova linha com o número 78. Esta decisão foi tomada e anunciada pública no dia dezanove de Abril de 1974, e posta em prática no dia vinte e dois. Pouquíssimos dias antes da célebre revolução dos cravos, portanto… 

Noticia da fusão das linhas A e D a sua transformação no 78, noticia no jornal "O Primeiro de Janeiro", de 19 de Abril de 1974.  

É nesse período pós vinte e cinco de Abril (décadas de setenta e oitenta) que a linha 78 começa a ser operada da forma como muitos passageiros se recordam – com os famosos autocarros Leyland Atlantean de dois pisos, já com a pintura laranja. Posso mesmo dizer que gerações inteiras de portuenses (e não só) cresceram a andar nesta linha – que tanto levava as pessoas para os seus locais de trabalho ou estudo, como levava as pessoas para a praia, no Verão. 


 Duas fotografias de autocarros Leyland Atlantean ao serviço na linha 78, no Castelo do Queijo e na Praça da Liberdade (nesta última foto, o autocarro está à direita). Fotos de Christopher Leach
   
Muitos também se recordarão também das paragens para se meter gasóleo (em plena viagem com passageiros!) ou então das voltas que os autocarros teriam que fazer dentro da Praça D.João I que certamente não eram fáceis para os motoristas… ou então dos dias em que muitos utilizavam os bancos para exprimirem os sentimentos ou outros conseguiam viagens “gratuitas” agarrando-se aos autocarros, mas do lado de fora. 


 Mais duas fotos de Cristopher Leach, retratando precisamente as voltas que os autocarros da linha 78 davam na Praça D. João I e o abastecimento de gasóleo.  

Anos 90 e o fim 
Com o progressivo abate dos Leyland Atlantean de dois pisos nos finais da década de oitenta e princípios da década de noventa do século XX, a STCP seria forçada a utilizar autocarros Standard para os substituir, até porque na altura a empresa já tinha linhas que necessitavam dos autocarros articulados que entretanto adquirira. Assim, e pelo menos até 1998, esta linha tinha ao seu serviço os autocarros da série 15XX-16XX (os primeiros Mercedes-Benz ao serviço da STCP, carroçados pela CAMO), cumprindo novas exigências a nível de conforto (estes autocarros foram considerados mais silenciosos, menos poluentes e mais confortáveis que os seus antecessores). Todavia, entre 1998 e 2000 os autocarros Volvo B10R (série 800-900) asseguraram esta linha, que chegava a contar com 16 autocarros em circulação durante o dia.
E em 2000, a STCP começa a operar novos autocarros a Diesel, com a numeração 2100. A grande maioria foi carroçada pela Salvador Caetano com chassis Mercedes-Benz, embora não fosse raro ver alguns autocarros integralmente construídos por esta empresa germânica, adquiridos em 2004. 

Duas fotos com os 21XX da STCP a fazer a linha 78, um na Rua Julio Dinis e outra no Castelo do Queijo. Segunda foto da autoria de Leandro Ferreira, da Transportes XXI.


Duas fotos com os 218X da STCP a fazer a linha 78, um no Hospital de São João e outro na Avenida dos Aliados. 

Também era frequente ver-se autocarros da série 1700 (os primeiros autocarros de piso rebaixado da empresa) e, no Verão, para responder á procura existente (o 78 servia muita gente que procurava as praias do Porto) os articulados da série 1000 também davam uma ajuda. 
  

 Autocarro da série 17XX a fazerem a linha 78, sendo a primeira no largo do Viriato e a segunda no Castelo do Queijo. A segunda foto é da autoria de Leandro Ferreira, da Transportes XXI. 

 O que é curioso é ver que esta foto data de 1982... mas que viria a tornar-se realidade cerca de vinte anos depois. Nos primeiros anos da década do século XXI os autocarros articulados Volvo B10M prestaram serviço na linha 78, durante o Verão. Só não foi exactamente este modelo de autocarro a ser utilizado... Retirada do grupo do Facebook "Eu andei no 78!"

 Autocarro 1011 a descer a rua dos Clérigos. Como se vê, foi tirada em pleno Verão. Foto de João Cunha, Transportes XXI
Como se tratava de uma linha muito extensa, e passava por locais onde o trânsito se processava com dificuldade, não era raro ver muitos autocarros com viagens “encurtadas”: faziam por exemplo trajectos somente para o Mercado da Foz, Praça da Liberdade, Santa Justa… o que não raro provocava protestos da parte dos muitos passageiros que continuaram a utilizar este serviço. É que na verdade esta linha contava com um intervalo de dez minutos por dia que era preciso respeitar e que nem sempre era suficiente para transportar todos aqueles que queriam viajar nestes autocarros – como por exemplo, os estudantes das faculdades situadas nos pólos da Asprela e Campo Alegre que iam e vinham daqueles locais. 
Todavia, com a expansão do Metro e após diversos estudos, a STCP decide implementar a rede de autocarros que hoje está em vigor, sacrificando então muitas das linhas de autocarro existentes. E o 78 foi uma delas. No dia 31 de Dezembro de 2006 acabava-se assim uma das linhas mais carismáticas do Porto, que serviu como eixo de ligação entre o Hospital de São João, as Antas, a Baixa do Porto e a Foz. Acabava-se assim uma linha que serviu muitas gerações de portuenses (e não só) para as mais diversas ocupações. No dia a seguir sucediam-lhe as linhas 305 (Hospital de São João – Cordoaria) e a linha 203 (Marquês de Pombal – Castelo do Queijo). Uma espécie de regresso ao passado…
 
Autocarro 1203 da STCP a fazer a linha 305, no Campo 24 de Agosto. 
Porém, e como esta linha de autocarro se transformou numa instituição que perdura na memória de muitos passageiros, é frequente encontrar-se nas redes sociais grupos dedicados ao 78 (“Eu Andei no 78 é um deles) ou então verem-se vídeos dedicados a esta linha. O 78 foi uma linha de autocarro que marcou uma cidade. Mas também foi uma linha com história, pois resultou da fusão da 2ª e da 3ª linha de autocarros a serem inauguradas no Porto.


 Para a elaboração deste artigo, utilizaram-se as seguinte fontes: 
- Jornal o Comércio do Porto, Junho de 1948;
- PT/ADPRT/EMP/STCP > Recortes de Jornais de 1972 a 1974 > Arquivo Distrital do Porto;
- Site Transportes XXI;
- Blog de Christopher Leach;
- Grupo do Facebook "Eu Andei no 78!"
-
Site da STCP