11/02/14

Um Simbolo Perdido

Na verdade, nunca se sabe quando e onde se podem encontrar nas ruas das nossas aldeias, vilas e cidades; vestígios de tempos e de hábitos de um tempo que não volta para trás. 

A verdade, é que desde 1946, a Companhia Carris de Ferro do Porto já não presta quaisquer serviços de transportes de passageiros na cidade. Todavia, é um facto que muito boa gente, sobretudo os mais idosos; se referem à STCP como a "Carris". 

E no entanto, muito boa gente poderá pensar que tudo o que esteja relacionado com esta Companhia que já não existe só pode ser encontrado em livros, fotografias ou então em relatos que se vão perdendo na memória. 

No entanto, poderá acontecer que muitos não saibam (nem talvez tenham reparado), mas há quem pise ainda um símbolo que já faz parte da história do Porto há dezenas de anos: uma tampa (possivelmente de comunicações) que contém o símbolo da Companhia Carris de Ferro do Porto. 



De facto, é uma coisa que já não abunda na nossa cidade. De pouco (eventualmente) poderá servir. Mas que não deixa de ser uma curiosidade, é um facto que poucos poderão desmentir. Até porque a área onde esta raridade está inserida passou por diversas transformações urbanísticas durante os 67 anos que se seguiram. Um período de tempo que dura uma vida inteira... 

Fica feito o registo. Para uma memória futura. 


06/02/14

Lisboa terá escritórios, o Porto teve escolas

Recentemente tive a oportunidade de ver este vídeo...

Basicamente, fala-se de um projecto em que se pretende reconverter contentores e autocarros (neste caso da CCFL - Carris) em escritórios (para indústrias criativas) e em cafés-restaurante.

A peça jornalística dá algum ênfase à palavra inovação. Mas será que foi tão inovador assim? Não que se queira discutir a qualidade do projecto (que isso é um facto indesmentível, há quem goste e certamente terá mercado e clientes para ser um sucesso), mas, de facto, como vamos ver, a ideia não é tão nova quanto parece.

Em 1967, o Bairro do Viso lutava com a falta de uma infraestrutura essencial - neste caso, uma escola. Em 28 de Setembro desse ano o jornal "O Comércio do Porto" apresentou um artigo em que noticiava que as crianças teriam que ir a outras escolas - na Senhora da Hora, na Boavista, por exemplo - enfrentando alguns perigos como a linha férrea e a estrada da Circunvalação. Dizia-se mesmo que "Pobres crianças! Terão (...) [que] estar muito atentas ao tradicional "Pare! Escute! Olhe!". Na verdade são elas que têm que olhar - visto que não terem quem "olhe" por elas!"


O mesmo artigo sugeria então que o STCP poderia ceder alguns carros eléctricos que foram entretanto abatidos ao serviço - dado que o plano de modernização da empresa estava em marcha e os autocarros e tróleicarros vinham substituir os "ronceiros" eléctricos - para os transformar em salas de aula. Uma solução já adoptada em Espanha... com excelentes resultados; segundo diziam.

No entanto, no dia 13 de Janeiro de 1968, o "Comércio do Porto" revela-nos esta surpresa:



Com efeito, seis carros eléctricos da série 350-373 (PIPIS), foram adaptados a sala de aula. Cada carro foi adaptado com cadeiras, secretárias, quadros, aquecimento, enfim; tudo aquilo que se espera de uma escola. Nem os tradicionais mapas de Portugal faltaram. 

Cada eléctrico comportava 34 alunos. As aulas eram distribuídas por dois turnos (um de manhã e outro á tarde) e, como era regra naquele tempo, os rapazes e as raparigas tinham turmas separadas. Os eléctricos foram pintados, com a cor grenã.

Não faltaram igualmente os sanitários (para alunos, e professores) e até o terreno em redor dos eléctricos foi preparado para ser um recreio, com o piso asfaltado e calcetado. 

O jornal noticiou que, apesar de tudo, a escola ainda não conseguia comportar todos os alunos por falta de lugares, tantos eram os alunos que eram provenientes do bairro do Viso, aos que se juntavam os alunos das redondezas que também desejavam frequentar aquele estabelecimento de ensino. 

É destacada a acção de muitas individualidades anónimas, no entanto o destaque vai para o arquitecto da Câmara Municipal do Porto - Alexandre de Sousa (que assinou o projecto); o engenheiro Mário de Carvalho (que representou uma comissão da Confraria da Nossa Senhora do Porto, uma das promotoras do projecto) e de todos os trabalhadores das Oficinas Gerais da Câmara Municipal do Porto assim como os funcionários da 6ª. Repartição de Arruamentos da Edilidade Portuense. 




Refere-se ainda que esta solução, embora não seja original no contexto europeu - Espanha e Alemanha já tinham realizado acções semelhantes - é uma solução "Made In Oporto", e que seria uma solução provisória até à construção de um edifício definitivo que albergasse a escola. 

Desconheço quando é que os eléctricos em questão deixaram de ser a escola que todos precisavam. Todavia, regista-se a alegria das crianças patenteada na fotografia. Nem que seja pelo facto de terem passado um dia diferente com a visita do jornal. 

E já que se fala nos PIPIS, recordo que ainda existe um exemplar preservado no Museu do Carro Eléctrico: o 373. 




Fontes: Jornal "O Comércio do Porto", Setembro de 1967 e Janeiro de 1968. Retirados da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 

02/02/14

Subestação da Gandra

Em 1967, o então STCP tinha a sua rede de tróleis em expansão. Com efeito, em 1967 seriam as linhas de Gondomar (Bolhão - Gondomar e Bolhão - São Pedro da Cova) em 1968 seria a vez do concelho de Valongo - mais concretamente a freguesia de Ermesinde - que passaria a dispor de duas linhas de trólei (Bolhão - Ermesinde e Bolhão - Travagem). 

Para o efeito, foi necessária a construção da subestação da Gandra. Para além de ser a única no concelho de Valongo, era também a única subestação a ser equipada com rectificadores de silício. A localização desta subestação permitia o fornecimento de energia ás duas linhas de troleicarro; dado que esta ficava num local muito próximo ás duas ruas servidas pelo trólei. 



Esta subestação funcionou durante mais de 25 de anos (aproximadamente), até que em 1993/94, as linhas 9 e 29 passaram a ser operadas com autocarros. Desde então, esta estrutura foi votada ao abandono, que levou a um estado de degradação altamente preocupante com o crescimento de silvas e outras plantas em redor do edifício

Note-se, todavia, que as populações que viviam em redor desta estrutura viram com algum alívio a desactivação desta estrutura; pois em dias de forte trovoada existia a propensão para a ocorrência de curtos-circuitos e outro tipo de incidentes. 

Em 2007, após a venda do terreno por parte da STCP, a subestação foi demolida para dar lugar a um prédio residencial. Esta foto mostra os últimos dias da subestação antes da sua demolição.

Remise da Boavista - agora no Flickr!

Caros leitores;

É uma verdade que este blog não tem tido a evolução e as actualizações necessárias para que este fosse uma obra de referência, e isso deve-se única e simplesmente a questões de nível pessoal.

No entanto, este blog vai continuar a estar disponível, e sempre que houver disponibilidade da minha parte, vou acrescentando alguns conteúdos.

Neste caso, dar-se-a preferência a conteúdos menos extensos, mas mais frequentes. Um pouco à imagem daquilo que se tem visto no Facebook da STCP.

Outra novidade que queremos referir é a criação de um álbum fotográfico (Jorge Monteiro - Remise da Boavista) com algum do espólio fotográfico pessoal sobre a STCP (e outros temas). Assim, doravante, a assinatura das fotos passará a ser com o nome do criador deste blogue, substituindo assim o Remise da Boavista.

Esperando continuar a ser merecedor da vossa preferência, agradeço desde já todas as visitas e comentários que aqui foram deixados.

Ass: Jorge Monteiro