06/02/14

Lisboa terá escritórios, o Porto teve escolas

Recentemente tive a oportunidade de ver este vídeo...

Basicamente, fala-se de um projecto em que se pretende reconverter contentores e autocarros (neste caso da CCFL - Carris) em escritórios (para indústrias criativas) e em cafés-restaurante.

A peça jornalística dá algum ênfase à palavra inovação. Mas será que foi tão inovador assim? Não que se queira discutir a qualidade do projecto (que isso é um facto indesmentível, há quem goste e certamente terá mercado e clientes para ser um sucesso), mas, de facto, como vamos ver, a ideia não é tão nova quanto parece.

Em 1967, o Bairro do Viso lutava com a falta de uma infraestrutura essencial - neste caso, uma escola. Em 28 de Setembro desse ano o jornal "O Comércio do Porto" apresentou um artigo em que noticiava que as crianças teriam que ir a outras escolas - na Senhora da Hora, na Boavista, por exemplo - enfrentando alguns perigos como a linha férrea e a estrada da Circunvalação. Dizia-se mesmo que "Pobres crianças! Terão (...) [que] estar muito atentas ao tradicional "Pare! Escute! Olhe!". Na verdade são elas que têm que olhar - visto que não terem quem "olhe" por elas!"


O mesmo artigo sugeria então que o STCP poderia ceder alguns carros eléctricos que foram entretanto abatidos ao serviço - dado que o plano de modernização da empresa estava em marcha e os autocarros e tróleicarros vinham substituir os "ronceiros" eléctricos - para os transformar em salas de aula. Uma solução já adoptada em Espanha... com excelentes resultados; segundo diziam.

No entanto, no dia 13 de Janeiro de 1968, o "Comércio do Porto" revela-nos esta surpresa:



Com efeito, seis carros eléctricos da série 350-373 (PIPIS), foram adaptados a sala de aula. Cada carro foi adaptado com cadeiras, secretárias, quadros, aquecimento, enfim; tudo aquilo que se espera de uma escola. Nem os tradicionais mapas de Portugal faltaram. 

Cada eléctrico comportava 34 alunos. As aulas eram distribuídas por dois turnos (um de manhã e outro á tarde) e, como era regra naquele tempo, os rapazes e as raparigas tinham turmas separadas. Os eléctricos foram pintados, com a cor grenã.

Não faltaram igualmente os sanitários (para alunos, e professores) e até o terreno em redor dos eléctricos foi preparado para ser um recreio, com o piso asfaltado e calcetado. 

O jornal noticiou que, apesar de tudo, a escola ainda não conseguia comportar todos os alunos por falta de lugares, tantos eram os alunos que eram provenientes do bairro do Viso, aos que se juntavam os alunos das redondezas que também desejavam frequentar aquele estabelecimento de ensino. 

É destacada a acção de muitas individualidades anónimas, no entanto o destaque vai para o arquitecto da Câmara Municipal do Porto - Alexandre de Sousa (que assinou o projecto); o engenheiro Mário de Carvalho (que representou uma comissão da Confraria da Nossa Senhora do Porto, uma das promotoras do projecto) e de todos os trabalhadores das Oficinas Gerais da Câmara Municipal do Porto assim como os funcionários da 6ª. Repartição de Arruamentos da Edilidade Portuense. 




Refere-se ainda que esta solução, embora não seja original no contexto europeu - Espanha e Alemanha já tinham realizado acções semelhantes - é uma solução "Made In Oporto", e que seria uma solução provisória até à construção de um edifício definitivo que albergasse a escola. 

Desconheço quando é que os eléctricos em questão deixaram de ser a escola que todos precisavam. Todavia, regista-se a alegria das crianças patenteada na fotografia. Nem que seja pelo facto de terem passado um dia diferente com a visita do jornal. 

E já que se fala nos PIPIS, recordo que ainda existe um exemplar preservado no Museu do Carro Eléctrico: o 373. 




Fontes: Jornal "O Comércio do Porto", Setembro de 1967 e Janeiro de 1968. Retirados da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 

4 comentários:

  1. É verdade , sim . Eu fui viver para esse bairro com 3 anos ... e FUI uma das meninas que entraram nessa escola em 1968. Lembra-me que a escola estava disposta como que num quadrado . O pátio acimentado ao meio ... e cada uma das "salas de aula " (eram quatro eléctricos , um para cada classe ) em cada ponta do quadrado . Que PROVA magnífica me deram aqui agora , sobre essa minha escola , que sempre guardei na memória e de que nunca mais ouvi falar. Agradeço do coração .

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  2. eu sou desse tempo pois fui um dos que fiz parte como aluno dessa escola e depois e também ainda nos prefabricados já mais tarde pois minha infância foi passada nesse bairro que guardo com muita lembrança.

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  3. eu sou desse tempo pois fui um dos que fiz parte como aluno dessa escola e depois e também ainda nos prefabricados já mais tarde pois minha infância foi passada nesse bairro que guardo com muita lembrança.

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  4. eu sou desse tempo pois fui um dos que fiz parte como aluno dessa escola e depois e também ainda nos prefabricados já mais tarde pois minha infância foi passada nesse bairro que guardo com muita lembrança.

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